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Foto do escritorh.d.mabuse

Lamento Negro


Para falar sobre o Lamento Negro é importante falar sobre Peixinhos, bairro localizado na divisa entre Recife e Olinda, que tem muita história. Surge com uma extensão do Quilombo Catucá, e como bairro foi fundado ainda no final do século XIX, tendo como referência o rio Beberibe (de onde vem tão poeticamente o nome do Bairro, o rio dos peixinhos) O bairro foi fundado no final do século XIX, tendo como marco o início da construção do Matadouro Industrial Municipal de Olinda (que na virada do século XXI daria lugar ao Nascedouro).


Desde o início do século XX, o bairro tem sido marcado por contradições, como a criação do Matadouro Municipal, do Curtume Santa Maria e, no meio do século, da Fosforita Olinda S/A, que tornou Peixinhos conhecido internacionalmente como fonte de fosfato.


Nos anos 70 o matadouro, a Fosforita e o curtume foram fechados, deixando Peixinhos na periferia da periferia do capitalismo, sujeito a todas as implicações e crises cíclicas decorrentes.


No entanto, as dificuldades acabaram gerando um senso de comunidade muito peculiar em Peixinhos, que se organizou de diversas formas, da luta contra a estação de transbordo de lixo até as criações de associações atléticas e culturais.


Na década de 1980, Peixinhos enfrentou a crise diagnosticada no manifesto do Mangue, por ser parte dessa cidade infartada, foi assombrada pelos altos índices de desemprego e violência. Foi nesse contexto que nasceu o o Lamento Negro, que nasce como um Afoxé, e se transforma em uma iniciativa social voltada para a comunidade que embora tenha ficado conhecido pela batida de samba-reggae, não era um bloco de samba-reggae. A banda incorporava elementos de coco, rituais afro-brasileiros, maracatu, ciranda e samba de roda. O bloco era um reduto dessas expressões ancestrais.


Foi nesse contexto que nasceu o Chico Science e o Lamento Negro, com a conexão entre o funk, rock, hip hop e Samba-reggae, com forte expressão politica e que viria a se tornar o Chico Science e Nação Zumbi. Aquele som específico do Mangue, que está presente no Nação Zumbi, é diretamente ligado às raízes do Lamento Negro


Acho importante pensar no Lamento Negro hoje em duas perspectivas simultâneas: aprendendo com sua história como a materialização sonora dessas lutas de mais de um século. E vivendo o futuro como exemplo de um modo de agir na sociedade, de forma muitas vezes organizada, as vezes dentro de um caos criativo importante que foge à (e com isso extrapola) uma racionalidade economicista, que abre caminhos, mas sempre por meio de ações coletivas.


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