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O Corpo que Aprende - Ou porque a Inteligência Artificial nunca será como nós



O corpo aprende no carnaval
O corpo aprende no carnaval

Em participação recente em um podcast, o cineasta James Cameron, conhecido por filmes como Avatar e Titanic, compartilhou suas reflexões sobre as diferenças essenciais entre inteligência artificial e humana.


Cameron compara o cérebro humano a um computador biológico de 1,5 kg. As metáforas tecnológicas para representar o corpo não são nenhuma novidade. Mas enquanto a IA depende de grandes quantidades de dados, nós aprendemos com experiências, o que torna nosso processo inclusive mais eficiente. Para o cineasta os sistemas atuais de IA, ainda não conseguem replicar verdadeiramente os processos cognitivos humanos.


Cameron, que além de diretor possui formação em física e um profundo interesse por tecnologia, destacou que, enquanto a inteligência humana emerge de uma complexa interação entre biologia, experiência e consciência, os sistemas de IA operam através de processamento estatístico de dados.


O que chamamos de inteligência artificial hoje é essencialmente um sofisticado sistema estatístico de reconhecimento de padrões. O diretor chamou atenção para vários aspectos críticos para entender as diferenças entre Inteligência Artificial e aprendizado humano:


1. A capacidade humana de entender contexto e significado profundo;

2. O papel das emoções e da experiência subjetiva no processo cognitivo;

3. A habilidade de raciocinar com informações incompletas;

4. A criatividade verdadeira, que vai além da recombinação de dados existentes;

O aprendizado humano é uma dança entre carne e mundo. Quando uma criança aprende a andar, cai ao dar os primeiros passos, seu corpo não apenas registra o erro - ele se transforma. Os músculos ajustam-se, o equilíbrio recalibra-se, os sentidos aguçam-se. Esse conhecimento não se dá dentro de uma racionalidade analítica, mas inscrito na própria matéria do ser. É o que Espinosa dizia quando escreveu que a mente é a ideia do corpo - não somos espectros pensantes, mas corpos que sofrem, desejam e, ao sofrer e desejar, compreendem.


A Inteligência Artificial, por mais sofisticada que seja, permanece alheia a essa dança essencial. O "papagaio estocástico" dos modelos gerativos repete combinações de palavras cada vez mais sofisticadas, mas como um automato, sem jamais ter sentido o gosto do café que descreve ou o peso da ansiedade que menciona.


Deleuze nos lembra que todo verdadeiro aprendizado é uma revolução corporal. O capoeirista que gira no roda não está aplicando um algoritmo - está negociando, a cada instante, com a gravidade, com a fadiga, com a história que seus músculos carregam, em combinação com a resistência do chão, a agência junto a gravidade. Sua inteligência emerge desse diálogo tácito entre corpo e mundo. Enquanto isso, os sistemas de IA mais avançados continuam presos ao reino platônico das formas puras - processam dados, mas não suam, não tremem, não arfam de cansaço após horas de prática.


A grande ilusão da Inteligência Artificial Geral é acreditar que poderá replicar nossa cognição sem replicar nossa carne. Como um espectro de história de terror que julgasse entender a vida por ter lido todos os livros sobre respiração. A verdadeira generalidade da inteligência humana não está em sua abstração, mas justamente em seu enraizamento, sua corporeidade - no modo como um matemático pensa com os dedos que rabiscam no papel, como um cozinheiro sabe pelo cheio que escapa às medidas exatas, como uma pessoa que produz por meio do design percebe a construção em participação com a cidade e outros corpos.


O projeto de Inteligência Artificial Geral, em seu objetivo de emular a mente humana, não deveria criar mentes mais poderosas, mas corpos mais vulneráveis. Máquinas que possam quebrar-se e, ao quebrar-se, aprender. Que conheçam a fome como limite e o tato como linguagem. Como toda pesquisa se concentra em estatísticas preditivas por mais sofisticadas que sejam, no máximo refletem nossa linguagem, mas falham e falharão em compartilhar nosso peso no mundo.

1 Comment


Rani Duarte
Apr 11

Amamos todos os questionamentos levantados em diálogo com o corpo humano diante do olhar do design pela pespectiva da IA. Entusiasmada em ler os próximos, visto que como pesquisadora na UFPE meu objeto de estudo são corpos femininos diante da cultura do consumo de moda. Avante✨

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