Ciclo de Construção de Futuro
O Ciclo de Construção de Futuro (CCF) é um método de pesquisa e design estratégico criado para antecipar problemas complexos em horizontes de cinco a dez anos. Estruturado em quatro fases: Temática, Imersão, Experimentos e Consolidação — o programa identifica desafios críticos, como a Regulação em Saúde, e os traduz em insumos estratégicos para orientar inovação, políticas públicas e investimentos.





Antecipando desafios complexos para orientar inovação e decisões estratégicas
Nas duas primeiras fases do Ciclo de Construção de Futuro (CCF), o foco esteve em mapear e compreender problemas mal-postos com potencial de impactar diretamente a sociedade no horizonte de cinco a dez anos. A partir da análise de relatórios internacionais, como os do World Economic Forum, do ICO e do IPEA, somada a entrevistas em profundidade com especialistas nacionais, foi escolhida a área da Saúde como prioritária. O processo de imersão revelou um conjunto de subtemas críticos, incluindo acesso, atenção primária, integração entre sistemas, uso de dados, complexidade da regulação e falhas no atendimento de urgência. A partir dessa análise, a Regulação em Saúde foi definida como Tema-Desafio central.
A escolha desse foco não foi casual. A regulação tem se mostrado um dos grandes desafios globais em sistemas de saúde. Nos Estados Unidos, por exemplo, as dificuldades em regular planos privados e integrar sistemas de prontuário eletrônico geram barreiras de acesso e altos custos. Na União Europeia, o debate sobre proteção de dados de saúde é regido pelo GDPR (General Data Protection Regulation), a lei que estabelece regras rígidas para coleta, armazenamento e uso de dados pessoais, incluindo dados sensíveis como os de saúde. O GDPR demonstra como a regulação precisa equilibrar inovação tecnológica com garantias de privacidade. No Brasil, a fragmentação entre as esferas municipal, estadual e federal impacta diretamente a regulação do SUS, em especial no acesso ao primeiro atendimento. Muitas vezes, o paciente não consegue sequer iniciar sua jornada no sistema de forma adequada, o que compromete todo o fluxo de cuidado. Em todos esses contextos, a regulação define não apenas como os recursos são distribuídos, mas também como direitos fundamentais, como o acesso universal à saúde, podem ser garantidos.
Durante a fase de imersão, além do mapeamento dos problemas atuais, foram realizadas entrevistas especulativas para projetar cenários futuros em torno da regulação. As discussões abordaram dilemas relacionados à privacidade de dados genéticos, à qualidade em consultas de telemedicina e chatbots, à segurança de dispositivos de IoT em saúde e às possibilidades de monetização de informações médicas. Esses exercícios prospectivos evidenciaram a regulação como variável crítica, capaz de definir o equilíbrio entre inovação tecnológica e proteção social.
Apesar dos avanços metodológicos e analíticos, o projeto foi interrompido com a eclosão da pandemia de Covid-19 em 2020. A crise sanitária global não apenas limitou a continuidade das etapas planejadas, como também reforçou a relevância do tema escolhido. A regulação, especialmente em contextos de urgência e gestão de dados em larga escala, mostrou-se ainda mais estratégica diante do colapso dos sistemas de saúde e da aceleração forçada de práticas como a telemedicina.
Fases do projeto

Temática
Definição da área prioritária por meio de relatórios e entrevistas. Resultado: escolha da Saúde e identificação da Regulação como Tema-Desafio.
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Método
análise de relatórios nacionais e internacionais (WEF, IPEA, ICO etc.), revisão bibliográfica e entrevistas em profundidade com especialistas; análise qualitativa inspirada em Teoria Fundamentada (Grounded Theory).
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Objetivo
escolher a área prioritária e derivar um Tema-Desafio alinhado a relevância social e viabilidade de atuação.
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Resultado
área Saúde selecionada; Regulação definida como Tema-Desafio; mapeamento inicial de subtemas (acesso, integração de sistemas, prontuário/dados, atenção primária, urgência/SAMU, usabilidade de sistemas, concentração de fornecedores, cuidado fora do hospital, bem viver e autonomia na velhice).
1
Imersão
Revisão científica e entrevistas em profundidade e especulativas. Resultados: mapeamento de problemas atuais e construção de cenários futuros.
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Método
revisão científica aprofundada; novas entrevistas com atores do ecossistema; entrevistas especulativas para projetar cenários a 10 anos (dados vs. privacidade, SUS vs. alternativas, controle vs. facilitação de acesso a fármacos).
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Objetivo
Estruturar subproblemas, iniciar parcerias e produzir visão presente–futuro para orientar experimentos.
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Resultado
Dois entregáveis: Relatório de Problemas Atuais (diagnóstico operacional e sistêmico) e Relatório de Horizontes (riscos e oportunidades futuras: qualidade em telemedicina/chatbots, segurança de IoT, anonimato de dados — inclusive genéticos —, requalificação de profissionais, atualização curricular e instrumentos confiáveis de educação em saúde).
2
Experimentos
Prototipagem de soluções em hackathons, oficinas e programas acadêmicos. Objetivo: validar hipóteses e gerar evidências práticas.
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Método
desenho de testes e protótipos (hackathons, oficinas, pilotos acadêmicos e em campo), métricas de sucesso e avaliação de impacto.
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Objetivo
validar hipóteses priorizadas, reduzir incertezas e gerar evidências para decisões.
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Resultados esperados
Protótipos e provas de conceito, documentação técnica, aprendizados para escala e/ou política pública.
3
Consolidação
Síntese de resultados e lições aprendidas em relatórios finais. Objetivo: orientar novos ciclos, investimentos e políticas de inovação.
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Método
síntese de resultados, lições aprendidas, critérios de priorização e recomendações
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Objetivo
informar roadmaps, investimentos e novos ciclos do CCF.
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Resultados esperados
Relatório final, guia de implementação e insumos para parcerias e editais.
4
Laboratório de Imersão
Para superar os limites de aprofundamento nas questões, inerente aos hackathons, desenhei a fase de Laboratório de Imersão, conduzida por seis semanas.Estruturei equipes com 16 participantes com bolsas de auxílio, organizando a validação dos protótipos em qualidade da interação, viabilidade técnica e financeira.
Laboratório de Imersão
Para superar os limites de aprofundamento nas questões, inerente aos hackathons, desenhei a fase de Laboratório de Imersão, conduzida por seis semanas.Estruturei equipes com 16 participantes com bolsas de auxílio, organizando a validação dos protótipos em qualidade da interação, viabilidade técnica e financeira.
O que fiz no projeto
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Concepção do método e escopo: sempre trabalhando junto com uma equipe de especialistas, desenhei a arquitetura do CCF, definindo perguntas-chave, critérios de priorização e a integração entre pesquisa, entrevistas e design estratégico.
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Planejamento e condução de entrevistas: elaborei guias, conduzi entrevistas em profundidade e entrevistas especulativas, aplicando princípios de Grounded Theory para codificação e saturação teórica.
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Workshops e facilitação: estruturei e facilitei sessões com especialistas e stakeholders para alinhamento de conceitos, derivação do Tema-Desafio e construção colaborativa de cenários.
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Síntese e análise: realizei a análise dos dados (presentes e prospectivos), consolidei subproblemas e elaborei a matriz presente–futuro que orientou os relatórios.
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Produção dos entregáveis: liderei a redação do Relatório de Problemas Atuais e do Relatório de Horizontes, conectando evidências a recomendações estratégicas e preparando insumos para experimentação (Fase 3) e consolidação (Fase 4).
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Orquestração de atores e próximos passos: articulei especialistas, áreas técnicas e potenciais parceiros para viabilizar a transição do conhecimento produzido para provas de conceito e decisões executivas.



