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Foto do escritorh.d.mabuse

Quem são seus marginais-heróis?


Todo mundo, dentro do seu repertório, dentro de seu dia-a-dia tem sua coleção pessoal de marginais e heróis. A partir do convite de Rico Lins, e inspirado no seu trabalho, foi concebido esse aplicativo que passa para as mãos de qualquer pessoa, munida de um Smartphone, a possibilidade de criar sua própria versão de cartaz e, durante o período de exposição, vê-la na parede da galeria Amparo 60.

No trabalho original de Rico Lins, o início da obra vem de uma imagem digital sobreposta por uma “ruidosa” imagem analógica (com seus excessos/transparências de tintas/texturas) que deixam a imagem única. Na tradução para sua versão digital o processo ganha outra perspectiva: a imagem, que pode ser tirada por qualquer pessoa, na banalidade do ato de fotografar com o celular, tem sobreposta a tipografia criada analogicamente, e seu resultado (foto + tipos) recebem uma dose de ruído digital. O “Glitch”, “defeito” que torna, por sua vez, a imagem única.

Muito além do experimento com tecnologias, o trabalho discute um dos temas críticos na produção artística contemporânea: De quem é a autoria da imagem final? De Rico Lins por referenciar o trabalho inicial? Do artista convidado que propôs essa tradução para mídias digitais? Da equipe de engenheiros e designers que tiveram papel ativo nas decisões que imprimem a identidade às imagens? Ou da cidadã/cidadão que tirou a foto e escolheu entre as infinitas possibilidades de ruídos a combinação que faz da imagem uma obra única? Outra questão que levanta, não menos importante: quais as fronteiras que existem hoje entre arte e design? Engenharia (supostamente matemática e fria mas rica em simbologias) e expressão pessoal (por sua vez mediada por algoritmos e processos de desenvolvimento)? A própria participação do C.E.S.A.R, Instituto Privado de Inovação que tem um Laboratório dedicado às Interações Artísticas (o LIA) representa esse momento híbrido. Mas pensamos nessas duas questões agora, quando o software é disponibilizado para o público, temos certeza que muitas outras questões podem e serão levantadas, a partir do seu uso por mais pessoas, com a certeza que trarão novos e mais ricos significados do que prevemos para esse nosso pequeno experimento.


Escrito originalmente para o catálogo da exposição Marginais-Heróis, Recife, fevereiro de 2015

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